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sexta-feira, 15 de julho de 2011

UMA GRANDE FÚRIA

UMA GRANDE FÚRIA


Antes de contar esta história singela, mas de grande valia para o enriquecimento humano, segundo minha modesta opinião; gostaria de deixar bem claro que como eu sempre fui um homem de fé e sempre gostei de ter esse fato respeitado pelos meus semelhantes, sempre procuro respeitar a fé de todo ser humano que cruza meu caminho. Então, eu não gostaria que a mensagem da minha história fosse deturpada por discussões ideológicas a respeito da crenças individuais de cada um, que como afirmei respeito muito.
Aconteceu comigo enquanto estava trabalhando na Casa de Saúde do doutor Kit Abdala, um fato que se não é corriqueiro e banal, ao menos não me chamou tanta atenção no período em que ocorreu como o chamaram alguns pares de anos depois.
Era minha noite no plantão do hospital e tudo corria perfeitamente dentro do que era esperado até algo em torno das duas horas da madrugada, quando ouvi uma movimentação diferente do que se costuma ter nessas cidades, ao menos nesse horário adiantado. Ouvi também, logo a seguir gritos por socorro, fato a que acudi rapidamente, e ao sair para a janela vi muitas pessoas ao redor de uma loja que estava incendiando.
Peguei o extintor de incêndios que ficava no corredor e sai para a rua, chegando logo à loja de calçados em chamas, chamas que estavam já muito altas para que eu pudesse realmente ajudar com o meu extintor; mas mesmo assim eu tentei. E foram chegando mais pessoas, algumas para ajudar e outras para bisbilhotar mesmo.
A coisa começou a ficar realmente dramática quando o fogo se propagou para a loja que ficava vizinha, e que trabalhava com artigos de caça e pesca, já que dentre estes materiais havia alguns que eram explosivos. Inclusive o nosso maior motivo de aflição no momento; as munições. E quando o fogo chegou á esse ponto o que se viu foi um grande número de pessoas procurando desesperadamente se proteger dos projéteis que voavam em todas as direções.
E não demorou muito para que as duas lojas fossem consumidas pelas chamas.Restando-me somente a tarefa de consolar os donos das lojas, pois éramos amigos, principalmente com os donos da loja de sapatos onde o fogo começara. Tarefa bastante árdua, já que meus amigos estavam inconsoláveis com a tragédia que se abatia sobre os negócios da família, de onde inclusive tiravam seu sustento.
Depois eu soube que a loja estava no seguro e fiquei bastante feliz pelo fato de que estes amigos poderiam ter a chance de tentar se reerguer.
E não fiquei sabendo do que lhes aconteceu posteriormente a isso porque nesse período fiquei afastado dessa cidade por alguns anos, foi nesse período que me casei e até que vivi algumas outras aventuras por ai.
Depois de casado, vim para Quedas do Iguaçu trabalhar com um amigo que eu conhecera no mesmo período de trabalhos na enfermagem e que agora fora eleito prefeito nesta linda cidade. Viemos eu e minha esposa, recém casados.
O destino dá seu jeito para que se torne um ciclo eterno a nossa vivência na terra. Eu estava morando na região da cidade em que houve o tal incêndio. E se o fato que marcou meu retorno para ela foi triste, mais triste ainda foram os acontecimentos que presenciei nela posteriormente.
Depois de doze anos morando em Quedas do Iguaçu, minha esposa foi acometida de uma grave crise de depressão e após tentarmos muitos tratamentos, soubemos que na cidade anteriormente referida havia um médico que estava se saindo muito bem nesse tipo de tratamentos. E nos pusemos na companhia de um amigo para a consulta com o médico.
O fato pelo qual adverti anteriormente com relação ao debate ideológico de religiosidade apresenta nesse ponto sua razão de ser.
O médico era um espírita convicto, razão pela qual insistia em que a consulta fosse à presença de espíritos que lhe guiavam no diagnóstico. Esse, segundo ele era o motivo pelo qual estaria indo tão bem em seu ofício. Como já disse antes, sou bastante católico e apesar de respeitar a crença dos outros, não me vi tentado a abdicar da minha. Mas, como tínhamos estado em muitos outros médicos sem resultados satisfatórios resolvemos que poderíamos tentar para ver o que dava.
Então a senhora que estava encarregada de conduzir-nos até a casa onde se daria a consulta nos levou, a mim, minha esposa e meu amigo para o lugar, nos deixou em um porão escuro e pediu que nos sentássemos para esperar.
Esperamos e algum tempo depois, chegaram o médico e o casal de espíritas que o guiavam todos vestidos em túnica branca, e estes espíritas se puseram a dizer coisas estranhas e algumas mais ou menos genéricas que até que casavam bem com a realidade vivida por mim e minha esposa. Falaram mais ou menos por uma hora e depois que a consulta foi dada por encerrada, as luzes foram acesas e o casal nos foi apresentado.
A minha surpresa não teve tamanho ao reconhecer neles o casal de amigos que há doze anos havia posto fogo na própria loja para receber o seguro. Mas que antes tiraram de dentro das caixas os sapatos e que por isso haviam sido presos e condenados a doze anos de cadeia. Depois soube destes detalhes, e me senti bastante tolo ao relembrar como eu tentava consolá-los na ocasião. E como pareciam inconsoláveis!
Desonestos por completo, acharam outro jeito de continuar enganando os seus semelhantes.
E eu quis contar essa história não como motivo de descrédito para os espíritas que realmente levam sua religiosidade a sério e sim para dizer que; mesmo quando estamos em situação difícil devemos ter o cuidado de procurar saber com quem estamos buscando ajuda.
E meus inconsoláveis amigos de doze anos atrás que nem sequer me reconheceram!

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