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domingo, 15 de maio de 2011

A RETIRADA DOS PÓRCOS

A RETIRADA DOS PÓRCOS

No dia 14 de agosto de 1969, na cidade de Cascavel, dei início ao meu curso de Auxiliar de Saneamento; curso que conclui no dia 14 de dezembro desse mesmo ano. E hoje já se passaram mais de trinta anos que eu continuo a atuar nessa área.
O município de Quedas do Iguaçu foi criado nesse mesmo ano e eu tenho orgulho em dizer que trabalho na área de saúde da cidade desde esse tempo. Quando comecei a atuar, nosso município era muito pobre em arrecadação, apesar de ter tido sempre grande fonte de riqueza em suas florestas de pinho nativo. Nesse período a povoação era de mais ou menos setenta casas, e hoje tem mais de cinco mil, e eu era o Único funcionário responsável pelos trabalhos de saneamento. E meu chefe direto era o doutor Auri Antônio Sanson, que era o responsável por toda a área de saúde do município nessa época em que pertencíamos ao quinto distrito sanitário de Guarapuava.
No total nossa prefeitura contava com cinco funcionários somente; eu, Antônio Monteiro da Silva, e os senhores Valério Piaseski, Elizeu Mirman de Camargo, Ervino Lins e o doutor Auri Antônio Sanson. Estes dois últimos, hoje falecidos e sempre muito lembrados.
Como a arrecadação tributária e fiscal do município era muito baixa para permitir a contratação de mais pessoas, e tínhamos que nos desdobrar, muitas vezes fora do horário regulamentar, para atender à população.
Hoje somos mais de quatrocentos funcionários no serviço público municipal e eu tenho muito orgulho em ser atualmente, o funcionário mais antigo em atividade na minha querida Quedas do Iguaçu.
Sempre que se trabalha com o público, seja ele de que espécie for sempre se encontram algumas dificuldades para se fazer entender os pontos de vistas, que às vezes, as pessoas defendem. Existem muitas pessoas que não querem compreender o fato de que quando o Agente Sanitário lhe indica erros ou defeitos em seus hábitos de higiene, não está querendo ofendê-lo e sim melhorar o seu nível de vida.
Assim sendo, nós temos que cultivar eternamente um jogo de cintura que muitas vezes nem sabíamos ter, antes de precisar fazer uso disto. Sempre tive alguns problemas como conciliar a atividade de servidor público com minha outra grande inclinação e decorrente incursão na política. Mas, sempre trabalhei tanto em um quanto em outro setor baseado na confiança que sempre soube só se consegue com credibilidade junto à seus semelhantes.
Como a cidade tinha poucas casas quando iniciei, eu cadastrei todas elas, em fichas que continham campos para indicar o nome de todos na família, onde trabalhavam, estudavam e qualquer outro dado que achasse que precisaria para me tomar realmente conhecedor dessa família. De maneira que, quando chegasse a casa eu poderiam chamar a todos os seus ocupantes pelo nome. Mantinha ainda um histórico de seus problemas para que pudesse me mostrar interessado toda vez que nos encontrávamos, sempre tentando encontrar um motivo para elogiá-los, e cedo percebi que isso me rendia bons frutos, ficava bem mais fácil chegar até elas e conseqüentemente conseguir sua atenção para meu trabalho. Mesmo quando isso se referia a alguma mudança necessária com relação a seus hábitos, sempre visando é claro, sua melhoria social, física e mental.
Adotava também outra estratégia que se mostrou muito eficaz, quanto ao andar por alguma rua da cidade identificava algum problema em uma de suas casas, chegava primeiramente com a desculpa de pedir água ou alguma informação a respeito de qualquer outra coisa. Com isso conseguia travar o conhecimento com a família e saber coisas a respeito deles que indicavam a melhor estratégia a se adotar na próxima visita quando eu teria já a intimidade suficiente para indicar os problemas e eventuais soluções.
Lembro-me de um caso assim.
Numa residência estavam sendo criados dois porcos. O que é alarmante perigoso para a situação sanitária, tanto dos moradores da casa, quanto para a de seus vizinhos, motivo pelo qual eu teria de convencer nosso amigo suinocultor a se livrar dos animais. Fui chegando com quem não quer nada além de jogar conversa fora, c comecei a conversar com a dona de casa.
Enquanto falávamos de assuntos banais como a temperatura e a possibilidade de chuvas eu buscava ao redor um motivo qualquer para elogiá-la e assim conseguir sua simpatia. O danado é que a senhora não apresentava motivo algum para ser elogiada.
Até que eu reparei que um de seus filhos apresentava alguns sintomas clássicos das conseqüências de se criar tais animais sem os cuidados adequados necessários. Pedi licença à mãe e com o dedo baixei a pálpebra do menino, confirmando o prognóstico de anemia por verminose. Expus o fato à senhora e ela concordou que o menino estava anêmico e que rangia os dentes durante o sono, o que seria mais um indicativo de que estava doente.
Ela, obviamente ficou preocupada com a situação de seu menino e quis saber se os remédios para tal serian1 muito caros, eu então lhe disse que primeiran1ente deveria se levar o menino para uma consulta médica e que o doutor é que saberiam ao certo quais deveriam ser os medicamentos necessários.
Notem que, apesar de saber com certeza que a verminose do menino era provocada pela presença dos animais, eu nada disse a esse respeito.
Providenciei a consulta com o médico, e todo o necessário para a recuperação da criança. Isso fez com que todas as famílias ficassem me conhecendo e melhor ainda que confiassem em mim.
Então ficou fácil, depois de uns três dias do acontecimento voltei a casa para saber como estava indo o tratamento e fiz um a longa e esclarecedora exposição a respeito da verminose e como eles estavam sendo prejudicados pelo fato de criarem os animais; e depois foi só sugerir que eles retirassem os suínos e demolissem o chiqueiro para que as coisas ficassem bem.
Sete dias depois disso, quando passava “casualmente” pelo local pude ver que o chiqueiro havia sido demolido.









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