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domingo, 15 de maio de 2011

O VIGILANTE

O VIGILANTE



Vamos falar do duelo entre a razão e a emoção. Seja na vida sentimental ou profissional lá está ela: a razão em combate com a emoção.
A emoção é algo que nos faz agir por impulso, pensando exclusivamente no bem estar, na alegria momentânea. Esta mesma emoção nos faz chorar, sorrir, enfim, é o sentimento que aflora sem que sejamos racionais.
Por outro lado temos a razão. Agir com a razão é pensar no amanhã, nas conseqüências de uma decisão. A razão nos coloca um freio e diz:”É melhor arriscar com cautela e medir as conseqüências dos seus atos”.
E você? É razão ou emoção? Quantas vezes você viveu este conflito no trabalho ou na vida pessoal? Quantas vezes você já perdeu o sono tendo que escolher entre esses dois sentimentos?
A vida é feita de escolhas e em cada uma delas sempre há este duelo entre razão e emoção, consciência e coração, e você muitas vezes precisa abrir mão de um deles. As escolhas não são nada fáceis. Muitas vezes adiamos esta decisão por medo de sofrer ou se arrepender.
Imagine a cena. Você recebe proposta para trabalhar em uma grande empresa e seguir a carreira dos seus sonhos, porém você está empregado e possui um cargo público há dez anos. Você sabe que a nova empreitada será acompanhada de muitos riscos, mas seu coração bate mais forte a cada vez que você pensa nesta nova oportunidade. “Esta é a emoção falando mais alto”
Voltando para a mesma cena, você para e pensa na sua estabilidade de 10 anos no mesmo emprego e sendo concursado a decisão pesa mais ainda. Ai você pensa que pode não dar certo e você pode ficar desempregado e não conseguir quitar seus compromissos financeiros. “Neste momento você optou pela razão”
Independente da escolha a ser feita, saiba que somente você poderá decidir. Então me diga: Razão ou Emoção?
Em todos os cantos desse mundo de meu Deus, existem histórias que quando contadas servem para exemplo a milhares de pessoas, em se havendo em seus conteúdos a essência do nobre fazer, que quase sempre está associada ao se fazer de sua rotina uma coisa nobre, e por isso grandiosa para a sua aposentadoria.
O que eu passo a relatar agora pode parecer exibicionismo de minha parte, mas não me importo em definitivo. Porque o que quero é poder contar o que aconteceu na vida profissional de milhares de seres humanos em todo o mundo, que mesmo que sejam mal remunerados mais e mais se fazem dedicados ao seu labutar incessante dia após dia. Pessoas que passam a vida a se dedicar aos outros sem se dar conta que estão realizando uma boa ação, e que somente verão os efeitos desses atos quando virem o reflexo de seus cabelos brancos e sua resistência física está por demais debilitada.
Mas quando olha para as suas realizações do passado, vê que valeu a pena e se orgulha de tê-lo feito. Construído um castelo do qual se orgulha e quer admirar nos mínimos detalhes e mostrar sua arte. E ergue isso num pedestal.
Conta-se isso é para que fique claro que vale a pena ter metas a se atingir, mesmo que as mesmas possam parecer impossíveis a princípio.
Eu tive o privilégio de ver isso acontecer muitas vezes e a sorte de poder me espelhar em alguns desses exemplos para construir o meu próprio castelo. Que eu não sei como ficará no final, mas que sei que conseguirei construir.
A história começa de maneira despretensiosa, quando em um dia de trabalho absolutamente comum eu estava andando, a pé como gosto de fazer, carregando o peso de minha maleta de serviços com tudo o que ela representa em termos de reclamações, tanto as que cabem nos papéis a que se destinam quanto as que não posso registrar nos referidos, mas que pesam bastante, em minha mente, chegando a parecer que estão alojadas no estômago.
Estava passando por uma rua qualquer de uma dessas localidades que mais carecem de atenção no município, quando percebi duas senhoras conversando a respeito de ir a um velório. Não por curiosidade, e até nem mesmo por ato de caridade cristã, mais por força da profissão me aproximei e perguntei quem havia morrido.
Quando me disseram que havia sido uma criança e que estava sendo velado naquele barraco logo em frente me apontando o tal com o dedo, eu me dirigi para o mesmo, porque como já disse faz parte do meu trabalho saber que mal ataca a nossa população.
Em cima da mesa havia um pequeno corpo sendo velado à luz das velas que quase chegava a tocar a lona do barraco, e quando perguntei à senhora que estava ao seu lado chorando muito, de que havia morrido o pobre inocente fui informado de que o fato se deu durante a tempestade da noite passada, quando o vento descobriu o barraco deixando o recém-nascido a descoberto pegando toda aquela chuva. Segundo o médico que atendeu à criança, ela fora vitimada por forte pneumonia.
Mas, o que mais me tocou nessa cena foi ver a pequena irmã do defuntinho chorando como se fossa a própria mãe do mesmo. Aproximei-me e perguntei se ela gostava muito do irmãozinho que morrera e ela disse que estava chorando porque sentia fome, então a levei para fora da triste moradia, e perguntei o que ela gostaria de ganhar do Papai Noel, e para confirmar minhas suspeitas, ela me falou que o que queria era um pedaço de pão.
Aquilo me tocou demais, não que eu não soubesse que existam pessoas no mundo que passam fome, ou que acreditasse que na nossa cidade fosse diferente do resto do mundo. O que me tocou foi o fato de que mesmo velando o seu pequeno irmão, a criança não podia esquecer a fome. Mesmo a dor de perder um ente querido não tinha o poder de amenizar aquela necessidade tão básica.
Dirigi-me ao colégio que ficava mais perto dali, e mesmo fazendo algo que seria julgado como errado, me reportei à diretora do estabelecimento e lhe contei todo o acontecido e o que eu tencionava fazer a respeito. Mesmo porque o que eu tencionava fazer dizia respeito à diretora, ao menos à sua colaboração. E nós dois, eu e a diretora da escola fizemos algo que não segundo os estatutos do funcionalismo não se deve fazer nunca, desviamos a merenda escolar. E eu sei que isso é coisa que não se deve fazer nunca, em hipótese alguma segundo os senhores que elaboraram a tal lei; mas o que eu gostaria de ver é eles praticando estas regras quando um pequeno ser chora diante deles, desesperadamente faminto para sequer conseguir realizar que o seu irmão morreu e que nunca mais irá voltar para seu convívio.
E com esse pequeno ato de bom senso eu a abençoada professora que dirigia a escola conseguimos pôr no rosto daqueles pobres sofredores a sombra de um sorriso talvez uma ponta de esperança no futuro.
Quando estava me afastando da casa, encontrei um senhor que reconheci rapidamente porque conheci de maneira bastante peculiar.
Esse senhor havia me procurado alguns dias atrás, chorando muito e reclamando de sua vida e suas desventuras, o que mais chamava a atenção era o fato de que ele carregava uma faca na cintura e se dizia desesperado a ponto de cometer qualquer loucura, assaltar ou até mesmo matar alguém. Isso porque, segundo ele, toda vez que voltava para casa e seu filho vinha lhe pedir se ele trouxera algo para se comer, ele tinha que admitir que nada conseguira, vendo seu filho ficar para trás choramingando de fome.
De maneira que ele me pedia desesperadamente que eu lhe ajudasse da maneira que pudesse. Eu como pai de família compreendi o que se passava com aquele filho de Deus, porque sinceramente eu também seria capaz de fazer qualquer coisa para ver os meus em situação melhor que a que se encontrava a família dele. Fato que se podia ver perfeitamente pelo desespero daquele senhor, mas mesmo assim eu consegui convencê-lo de que por pior que fosse a sua família precisava dele em liberdade para continuar tentando, e que só assim se teria uma chance de melhorar. Consegui algumas coisas para que ele levasse para a família naquele dia e me despedi confiante em que, pelo menos por um pequeno espaço de tempo, aquela família teria paz de espírito para continuar lutando por uma melhora.
E eis que reencontro o mesmo homem naquele momento tão duro para mim, e pior ainda para ele, porque como vim, a saber, ele era o pai da criança morta e da quase morta de fome.
Como faltava pouco para o horário de parar o trabalho do dia, fato lembrado por minha úlcera que reclamava seu remédio me dirigiu ao meu posto de trabalho para encerrar o expediente.
O fato é que quando cheguei lá estava mais cansado do que era de se esperar mesmo levando em conta que a distância era um pouco grande e eu percorri o trajeto a pé. Mas, conclui que isso não deveria ser usado como explicação para o fato porque eu estava acostumado a fazer maiores trajetos e que se aquilo acontecia devia ser decorrência do fato de eu estar ficando velho. E se não fosse o peso dos anos, seria o peso de se ver tanto sofrimento nessa terra.
Não quis dizer nada para minha esposa devido ao fato de que, como todos os homens quando amam uma mulher queria mais é me sentir o seu protetor, não me revelando fraco nunca diante dela, o que agora sei que é um erro. Quando a idade chega em conjunto para um casal isso deve ser encarado como uma benção, e mais abençoado ainda deve ser o fato de um poder apoiar o outro em suas fraquezas cotidianas.
O fato é que naquela noite, jantei tão normalmente quando pude devido ao fato de me lembrar do que ocorreu durante o dia, a fome daquelas pessoas fez com que, no mínimo eu abençoasse ainda mais o alimento de que dispunha para mim e para oferecer para os meus. E como de costume, depois de jantar e ver o jornal fui me deitar, porque a canseira não queria passar, e eu me sentia ainda mais cansado.
Logo depois minha esposa veio se deitar também, tudo como acontecia todos os dias. Os fatos começaram a ficar estranhos quando eu tive necessidade de ir ao banheiro durante a noite, isso sim um fato atípico.
O que realmente aconteceu, eu só pude supor depois. O que sei é que senti algo frio em minha cama, e acordando descobri que estava dormindo no piso do banheiro. Levantei e me dispus a ir novamente para a cama me achando mais velho ainda, e confesso que me assustei com isso. Porque embora todo homem saiba que um dia ira envelhecer, espera que esse dia, realmente não venha e se vier que seja o mais tarde possível.
Enquanto me dirigia ao quarto me bati em algumas cadeiras e quando cheguei a ele voltei a desmaiar na frente dela, foi só devido ao fato de ela ter me visto desmaiar que eu soube depois que o que aconteceu no banheiro foi que eu também havia desmaiado lá. E ela quando viu o que acontecia, ficou desesperada e chamou os nossos filhos, os quais me levaram ao hospital, onde fui atendido pelo mesmo médico que tratava de minha úlcera, fato que facilitou o diagnóstico; eu havia tido um rompimento no estômago, devido à mesma úlcera e isso estava fazendo com que eu perdesse sangue.
Fui encaminhado para Cascavel e lá tratado por especialista que queria me operar, o que eu não queria de maneira nenhuma, e isso depois se firmou como sendo boa coisa, porque os medicamentos conseguiram estancara sangramento. E se eu conto essa história tão pessoal, é para dizer que muitas vezes os funcionários são afetados pelas situações que vi venciam no seu dia a dia.
Por mais que as autoridades que elaboram as leis possam ter a capacidade de pensar, elas jamais poderão prever o quanto suas decisões afetarão as pessoas a que se destinam. Tanto as pessoas que seriam alvo dessas políticas, muitas vezes paternalistas e eleitoreiras que nada resolvem, quanto às pessoas que trabalham na linha de frente de sua implementação prática. E esses funcionários dedicados e muitas vezes incompreendidos, tanto quanto não podem opinar na formulação dessas leis, também estão impedidos de criticar as mesmas, ou seja, a eles somente sobra o executar, sem questionar.
Quero com esse relato homenagear essas pessoas e sua grandeza de espírito para que pelo menos tenham um reconhecimento. Do único lugar de onde ele pode vir de um colega que sente o mesmo na pele.
Aconteceu no dia 12 de dezembro de 1985, nas margens do rio dos imigrantes Alto Recreio.



















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