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domingo, 15 de maio de 2011

O AÇOUGUEIRO MAL INTENCIONADO

O AÇOUGUEIRO MAL INTENCIONADO



Esta história que eu vou narrar agora é mais uma das muitas que recolhi ao longo da vida no exercício de minha função.
Fatos a se considerar no cotidiano dos seres, e que por vezes assume características fantásticas, quando se tenta levar a vida cotidiana de maneira a desempenhar, suas funções da melhor maneira possível.
Eu havia recentemente chegado a Quedas do Iguaçu, que ainda se chamava Campo Novo, e logo que consegui pôr minha nova vida em ordem, procurei-me matricular para concluir o curso ginasial. A escola da cidade era um espaço cedido pelas freiras para as salas de aulas em seu próprio estabelecimento.
Lembro-me muito bem que as irmãs eram 6 e que todas moravam neste mesmo local.
E tudo corria bem. Até que um dia todas as irmãs tiveram uma surpresa desagradável. Um distúrbio intestinal tirou-as, todas, de suas costumeiras rotinas.
E mesmo tendo sido elas medicadas apropriadamente os dias iam se passando sem que houvesse melhora do quadro clínico.
Nesse período todos os alunos estavam sem aulas, não só por respeito às bondosas irmãs que havia cedido seus espaços, mas até porque muitas de nossas disciplinas eram ministradas pelas mesmas.
Aqui entra em cena o meu instinto investigatório que me faz ter um grande interesse pelo caso, não só porque eu era aluno do estabelecimento, mas também por que eu exercia uma função na vigilância de saneamento.
Todas as 6 irmãs estavam apresentando os mesmos sintomas, o que caracterizava um quadro de intoxicação alimentar, e isso seria um caso de Saúde Pública. Como nesse tempo eu era único funcionário da saúde no município, era da minha responsabilidade investigá-lo.
No passo seguinte, a investigação propriamente dita, descobri que a única excepcionalidade na dieta das freiras foi à carne que elas receberam como doação de um açougueiro da cidade.
Fato que até elas acharam excepcionais, já que a doação foi de 10 quilos, e o açougueiro não tinha tanto assim. Mas enfim o samaritarismo não previa desconfiança por parte do agraciado.
Esse dado era pista valiosa se o único fato estranho na rotina alimentar das religiosas havia sido carne, então a carne era a suspeita de ter provocado a intoxicação.
Conversando com o proprietário do açougue este me garantiu que fez doações pelo fato de serem ele e toda sua família pessoas religiosas que estavam retribuindo dessa maneira o quanto Deus havia apiedado-os.
Isso é um motivo completamente plausível para uma doação. Por mais exagerado que ela possa parecer.
Agora o que eu deveria procurar saber é a procedência da carne e tentar avaliar sua qualidade para consumo. Como havia se passado uma semana desde a doação, não teríamos amostra para analisar, então expus ao açougueiro a minha suspeita de que a carne que teria provocado a doença das irmãs.
Ele ficou indignado com minha suspeita e garantiu que comprou o boi do Sr. Otávio e que este sempre lhe fornecia bois de ótima qualidade e que nunca tinha tido qualquer problema dessa natureza então.
Eu tentei acalmá-la dizendo que se ele havia comprado um boi doente sem saber não tinha culpa e que provavelmente, o senhor Otávio também não teria culpa, mas que era bom à gente avisá-la para que pudesse tratar suas criações, no caso de o boi ter sido abatido doente sem que se soubesse.
Perguntei o endereço do Senhor Otávio para poder avisá-lo e dar uma olhada em suas criações, só para prevenir.
Foi a partir daí que comecei a notar algo de estranho no ar.
O açougueiro começou a ficar nervoso e queria me convencer a não realizar a visita, o que era uma obrigação minha nesse caso.
Para não despertar mais instintos negativos no homem eu fingi ceder, deixando-o me convencer a não fazer a visita que segundo ele seria perda de tempo já que lê, o açougueiro garantia a saúde do boi, e que o senhor Otávio mora muito longe. Logo que sai do açougue comecei a investigar para descobrir o endereço real do vendedor do boi.
Mas o objetivo era chegar logo até ele e evitar que o açougueiro o prevenisse de minha possível visita.
Não demorou muito para descobrir o endereço e quando cheguei a casa fui recebido pela esposa do senhor Otávio.
Como eu era novo na cidade e ainda pouco conhecido usei deste artifício para não assustar a mulher me apresentei como sapateiro que estava se estabelecendo na cidade e que estaria negociando com o açougueiro o couro do boi que este havia comprado do marido dela.
Expliquei que eu precisava saber a procedência do couro para poder trabalhar, se o boi estava sadio quando foi morto o couro serviria para fazer solado de sapatos, já se estivesse doente só valeria ser aproveitado para fazer tambor de pandeiro.
Convenci-a de que eu precisava realmente saber a procedência do couro, ou seja, o estado de saúde do boi quando ele foi abatido.
Para meu espanto, a mulher passou a narrar as desventuras do boi que havia estado meio adoentado e que se atolou no banhado durante a noite e amanheceu morto de tanto esforço que fez para sair do atoleiro.
A sorte dela e do marido é que o açougueiro havia se encarregado de consumir com carcaça a troco de ficar com o couro para vender.
Este fato esclareceu a gravidade da situação das pobres irmãs. Depois de levar o caso às autoridades a quem eram de direito saber, não me restou, alternativa a não se fechar o estabelecimento, o que era a pena mínima a se aplicar. Cabia ainda um processo e multas, mas decidimos não aplicar devido ao fato de que a situação econômica do açougueiro não lhe permitiria pagar. Então nos contentamos em impedir que o desonesto e desequilibrado açougueiro.
Continuasse a atuar num ramo em que prejudicar seus semelhantes. Mesmo que o prejuízo fosse causado somente por seu despreparo.
É por isso que eu acredito que todos nós devemos nos preocupar em desempenhar nossas funções da melhor maneira possível. Sempre.
Temos o dever de prestar conta nossos atos e atitudes aos nossos semelhantes. Não importa se somos comandantes ou comandados, somos sempre responsáveis por tudo o que acontece no nosso redor. Principalmente se isso ou desvia a rotina harmoniosa dos nossos semelhantes.
E mesmo que o procedimento do açougueiro não tivesse intenção de prejudicar, outras pessoas, nunca é demais lembrar que nosso organismo é uma máquina perfeitamente regulada por Deus para seu melhor desempenho e funcionamento, mas a manutenção dessa máquina cabe a nós, é por isso que devemos ter certeza da procedência do alimento que estamos ingerindo.











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