A INVASÃO DE DOMICÍLIO
Na metade da década de 80 me aconteceu a curiosa história que venho lhes contar agora. Ocorreu nessa época algo quase que inusitado na vida de um Agente de Saneamento; quase a metade de um bairro na cidade não queria permitir a entrada de agentes em seus domicílios. Fato que se parece estranho tem sua explicação: muitas casas nesse bairro pertenciam à uma única pessoa que as alugava a terceiros. O fato é que quando fazemos estas vistorias nas casas, estamos procurando melhorar a vida das pessoas que a ocupam, pesquisando e orientando-as quanto aos seus hábitos de higiene e, tan1bém o quanto à estrutura da moradia está ou não adequada a isso.
Toda vez que ia até lá, eu prestava este serviço de orientação e pedia as melhorias que eram sempre muito necessárias, e essas melhorias deveriam estar a cargo do senhorio, que por esse motivo promoveu junto aos seus inquilinos e vizinhos uma ferrenha campanha para impedir nossa entrada nessas residências.
Isso por si só não nos acarretaria problemas insolúveis já que segundo o Código Sanitário do Estado poderíamos intimar oficialmente a família que estivesse ocupando a residência e assim realizar o trabalho de sanean1ento sempre tão importante para o país todo. Mas, eu sempre gostei de não ter que chegar a esse ponto, tentando resolver as questões que surgiam com base na argumentação amigável e respeitosa com o morador. Então intimar seria a última coisa que faria.
Só que eu não pretendia desistir de efetuar o trabalho para o qual vinha sendo pago à custa do dinheiro de impostos, dinheiro que em última análise vinha também desses moradores que não queriam permitir a visita.
Então, me pus a tentar imaginar uma solução pacífica para o impasse.
Ocorreu-me uma idéia que me pareceu muito boa.
E eu a pus em prática da seguinte maneira: nesse bairro tínhamos acesso à escola, onde estudavam os filhos dos moradores.
Nas escolas costumamos desenvolver, como partem de nosso trabalho, campanhas de conscientização com as crianças. E eu pedi a autorização da diretoria para fazer isso.
Nesta palestra que ministrava, geralmente dava conselhos de como as crianças deveriam agir em suas casas com relação às normas de higiene que eu apresentava a elas. Falava sobre transmissores de doenças, como insetos, por exemplo, e pedia a colaboração deles para que atuassem junto a seus pais como se fossem fiscais destas regras que eles agora apresentarian1 em suas casas. Desta vez fui ainda mais longe pedindo às crianças que escrevesse em seus cadernos qual era a real situação de seus lares, que era o que eu deveria saber, mas estava impossibilitado de levantar os dados pessoalmente.
Propus ainda a eles que cada aluno faria um trabalho sobre as normas de higiene que eu havia ensinado e que desses trabalhos seriam premiados os dez melhores.
Aqui é que estava o “pulo do gato”. Eu já tinha de antemão previsto que iria premiar todos eles, isso era parte de minha estratégia, mas nem por isso deixei de me surpreender com a qualidade dos quase trezentos trabalhos apresentados quando chegou a data marcada para isso. Nesse dia eu já havia conseguido com uma empresa do município as mudas de pinos que tencionava dar de prêmio a esses alunos.
Para a entrega dos prêmios foram convocadas as presenças dos pais das crianças e de autoridade entre os quais compareceram inclusive o próprio prefeito, na época o senhor Rudi Schaedler e sua secretária de educação, alguns vereadores e os professores dos alunos.
A essa altura eu já tinha conseguido quase tudo que queria a mobilização das crianças, e o conseqüente envolvimento de seus pais, que ocasionaram por si só uma grande melhoria no estado das residências.
Mas, o plano só seria completo com a entrega dos prêmios.
O real objetivo de se premiar OS alunos com árvores era que com isso eu poderia dizer que queria acompanhar o desenvolvimento das plantas de perto. Conseguindo assim o que precisava; entrar na residência e, se não oficialmente pelo menos eu poderia ter o acesso antes negado. Isso ajudava muito, porque se o Agente de Saneamento vai a casa para verificar o crescimento da planta, os moradores dão uma caprichada no quesito normas de higiene para não fazer feio no dia da visita.
Ai só precisou tornar estas visitas bastante freqüentes de modo que os hábitos de higiene fossem fixados e assimilados com o tempo.
Sem dizer que com isso ajudamos a formar uma consciência ecológica nas crianças.
Visitei todas as casas pelo tempo que julguei necessário e ainda hoje me emociono ao lembrar como quando depois de ver a tal árvore, os alunos mostravam orgulhosos as melhoria que haviam proposto a seus pais no que dizia respeito à questão de higiene.
Eles levaram a sério o assunto se tomando realmente fiscais da higiene.
Mas ainda hoje, me orgulho muito mais de ter conseguido realizar meu trabalho de maneira satisfatória sem precisar criar atritos.
Pois acredito que raras vezes na vida de qualquer pessoa, ela não possa evitá-los; com um pequeno exercício de criatividade e uma boa dose de paciência para conseguir seus objetivos.
Na metade da década de 80 me aconteceu a curiosa história que venho lhes contar agora. Ocorreu nessa época algo quase que inusitado na vida de um Agente de Saneamento; quase a metade de um bairro na cidade não queria permitir a entrada de agentes em seus domicílios. Fato que se parece estranho tem sua explicação: muitas casas nesse bairro pertenciam à uma única pessoa que as alugava a terceiros. O fato é que quando fazemos estas vistorias nas casas, estamos procurando melhorar a vida das pessoas que a ocupam, pesquisando e orientando-as quanto aos seus hábitos de higiene e, tan1bém o quanto à estrutura da moradia está ou não adequada a isso.
Toda vez que ia até lá, eu prestava este serviço de orientação e pedia as melhorias que eram sempre muito necessárias, e essas melhorias deveriam estar a cargo do senhorio, que por esse motivo promoveu junto aos seus inquilinos e vizinhos uma ferrenha campanha para impedir nossa entrada nessas residências.
Isso por si só não nos acarretaria problemas insolúveis já que segundo o Código Sanitário do Estado poderíamos intimar oficialmente a família que estivesse ocupando a residência e assim realizar o trabalho de sanean1ento sempre tão importante para o país todo. Mas, eu sempre gostei de não ter que chegar a esse ponto, tentando resolver as questões que surgiam com base na argumentação amigável e respeitosa com o morador. Então intimar seria a última coisa que faria.
Só que eu não pretendia desistir de efetuar o trabalho para o qual vinha sendo pago à custa do dinheiro de impostos, dinheiro que em última análise vinha também desses moradores que não queriam permitir a visita.
Então, me pus a tentar imaginar uma solução pacífica para o impasse.
Ocorreu-me uma idéia que me pareceu muito boa.
E eu a pus em prática da seguinte maneira: nesse bairro tínhamos acesso à escola, onde estudavam os filhos dos moradores.
Nas escolas costumamos desenvolver, como partem de nosso trabalho, campanhas de conscientização com as crianças. E eu pedi a autorização da diretoria para fazer isso.
Nesta palestra que ministrava, geralmente dava conselhos de como as crianças deveriam agir em suas casas com relação às normas de higiene que eu apresentava a elas. Falava sobre transmissores de doenças, como insetos, por exemplo, e pedia a colaboração deles para que atuassem junto a seus pais como se fossem fiscais destas regras que eles agora apresentarian1 em suas casas. Desta vez fui ainda mais longe pedindo às crianças que escrevesse em seus cadernos qual era a real situação de seus lares, que era o que eu deveria saber, mas estava impossibilitado de levantar os dados pessoalmente.
Propus ainda a eles que cada aluno faria um trabalho sobre as normas de higiene que eu havia ensinado e que desses trabalhos seriam premiados os dez melhores.
Aqui é que estava o “pulo do gato”. Eu já tinha de antemão previsto que iria premiar todos eles, isso era parte de minha estratégia, mas nem por isso deixei de me surpreender com a qualidade dos quase trezentos trabalhos apresentados quando chegou a data marcada para isso. Nesse dia eu já havia conseguido com uma empresa do município as mudas de pinos que tencionava dar de prêmio a esses alunos.
Para a entrega dos prêmios foram convocadas as presenças dos pais das crianças e de autoridade entre os quais compareceram inclusive o próprio prefeito, na época o senhor Rudi Schaedler e sua secretária de educação, alguns vereadores e os professores dos alunos.
A essa altura eu já tinha conseguido quase tudo que queria a mobilização das crianças, e o conseqüente envolvimento de seus pais, que ocasionaram por si só uma grande melhoria no estado das residências.
Mas, o plano só seria completo com a entrega dos prêmios.
O real objetivo de se premiar OS alunos com árvores era que com isso eu poderia dizer que queria acompanhar o desenvolvimento das plantas de perto. Conseguindo assim o que precisava; entrar na residência e, se não oficialmente pelo menos eu poderia ter o acesso antes negado. Isso ajudava muito, porque se o Agente de Saneamento vai a casa para verificar o crescimento da planta, os moradores dão uma caprichada no quesito normas de higiene para não fazer feio no dia da visita.
Ai só precisou tornar estas visitas bastante freqüentes de modo que os hábitos de higiene fossem fixados e assimilados com o tempo.
Sem dizer que com isso ajudamos a formar uma consciência ecológica nas crianças.
Visitei todas as casas pelo tempo que julguei necessário e ainda hoje me emociono ao lembrar como quando depois de ver a tal árvore, os alunos mostravam orgulhosos as melhoria que haviam proposto a seus pais no que dizia respeito à questão de higiene.
Eles levaram a sério o assunto se tomando realmente fiscais da higiene.
Mas ainda hoje, me orgulho muito mais de ter conseguido realizar meu trabalho de maneira satisfatória sem precisar criar atritos.
Pois acredito que raras vezes na vida de qualquer pessoa, ela não possa evitá-los; com um pequeno exercício de criatividade e uma boa dose de paciência para conseguir seus objetivos.
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